sábado, 18 de agosto de 2012

O Sol, como sempre, rei!


Maravilha viajar e só ter a sua frente linhas da estrada cortadas pelo horizonte. Um leve escurinho disfarça o natural da paisagem clareada timidamente por faróis de luzes amarelas. Não se pode desviar atenção, dirigir à noite requer cuidados redobrados, mas a necessária visão periférica de um motorista permite deliciar-se da beleza ao seu redor, ainda que pareça só a sua frente.

As horas passam e as luzes artificiais trocam de tom com o amanhecer. Transformada a percepção, aquele início tímido rapidamente mescla a calmaria de uma madrugada com o alvoroço nítido de uma aurora. Como se fosse uma preparação, com expectativa, percebe-se a submissão completa, a chegada de algo esplendoroso trata de fazer mudar tudo o que horas antes era d’outro reino. Ele está prestes a nos inundar com sua energia.

Difícil controlar os olhos. Quer-se ver, capturar o mais lindo momento: o instante em que os torna outro, a chegada do primeiro feixe de luz. Naturalmente, as pupilas arreganhadas, ainda vulneráveis, não temem o que está por vir. Mas é inevitável. Quando o grandessíssimo surge nada mais o ignora. O vasto círculo de fogo, alaranjado, preenche o espaço que antes já havia sido contemplado. E os olhos fogem a sua encarada. Não se pode confrontá-lo assim. A luz é imensa! 

O seu poder nos conforta. Teremo-nos por toda a vida nesse vai e vem. Agradecemos sua chegada e choramos a sua partida. Mal sabemos de nossa vulnerável situação. Ele não nos cerca, não é o que parece. Por tempos afirmou-se, mas estavam errados. Beiramos a ele. Dependemos dele. O conjunto nos favorece, porém ainda somos menores.

O olhar periférico do motorista percebe o vasto caminho percorrido pela luz emitida pelo grande astro. Percebe também a nossa inferioridade. Somos servos. O Sol reina e nos faz aceitá-lo.

Coloquei os óculos escuros e a estrada fez-me virar e perdê-lo de vista. O ainda dia brilha. Começou mais uma vez.

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