segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Estou preparado para morrer. A morte não me assusta, a vida me seduz! Zé Carlos Ramos

Tutóia, 26 de agosto de 2017.

Tio Zé Carlos,

O novo nos assusta. Como é confortável prevenir tudo, pensar em tudo antes mesmo de acontecer. Planejar e antecipar. Sou um Ramos, Ramos de sangue! Desde cedo meu pai me ensinou que devemos nos esforçar em tudo que fazemos. Eu só não imaginava que isso era tão sério. Por isso sempre nos precavendo.

Nessa família a regra sempre foi “fazer o que tem que ser feito”, independente das prioridades. Pois, a prioridade sempre foi “fazer o que tem que ser feito”. E quando pensamos em tudo o que pode acontecer, somos frios e calculistas o suficiente para nos prepararmos para o pior. Antes dos outros, sempre! As pessoas duvidam, nos questionam, até nos chamam de loucos, grosseiros... Mas, nós Ramos, sabemos, conhecemos o que é o certo a ser feito em seu devido momento. Ainda que doa nas pessoas que amamos.

Confesso! O orgulho de pertencer a essa família transborda. Ser um Ramos me constitui, me eleva. Ainda mais quando conheço todas as histórias nas quais meu pai, tios e avô passaram, anos atrás. Muitas dessas histórias têm como personagem principal o senhor, meu tio. Que homem!

Confesso também minha queda pelo romantismo do filósofo Nietzsche. Aquele apaixonado pela afirmação da vida. Pela valorização de nossos sentimentos mais puros. Aquela alegria que sentimos quando fazemos tudo o que desejamos fazer...

Quando eu olhava em seus olhos eu enxergava certezas. Eu enxergava muita vida. Uma sagacidade que eu só podia comparar a de meu pai, seu irmão, sempre que precisou vencer a vida. Quanta vida! Quantas vezes o senhor, meu tio, foi implacável e sobreviveu. Quantas vezes o senhor honrou o sobrenome que carregamos e renasceu!

Tenho orgulho de ser seu sobrinho. De ter o sangue dos Ramos, o sangue de um homem que sempre fez o que tinha que ter feito. De ser um velho lobo, um velho lobo do mar!

Meu tio Zé Carlos, o senhor faz falta. Mas estamos aqui para honrar sua sede pela vida. Como o senhor disse: A vida lhe seduz! A vida seduz a nós, Ramos! E é nossa obrigação valorizá-la, em sua memória!


De seu sobrinho, José João D Ramos.