sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Torneiras abertas.



É esplêndido entender o funcionamento das caixas-d’água. O fluxo de água nos dutos, a física envolvida e a engenharia na distribuição das válvulas são, no mínimo, belíssimas. E tratando especificamente de caixas-d’água abastecidas por poços artesanais, individuais e privados, é mais simples a compreensão de seu funcionamento.

Um poço de dez metros de profundidade é explorado por uma pequena bomba capaz de jorrar sua água para incríveis cinco ou seis metros para cima, local onde se encontra a caixa-d’água, normalmente com capacidade para mil ou dois mil litros, e que deve ser completamente enchida para abastecimento de uma possível casa que depende inteiramente daquele poço para o consumo de água.
 
Não é difícil imaginar que a capacidade da caixa-d’água tem período limitado para o abastecimento. Logo, assim que cessa a água, a bomba se faz necessária funcionando, e bem! Uma rotina se firma. Enche-se a caixa, seca-se a caixa! E, rapidamente, os moradores da casa definem bem o tempo de uso da água. Sabem bem como utilizá-la da melhor maneira. E, caso o número de residentes aumente ou diminua, isso influenciará diretamente no consumo dessa água. A conta é simples: Quanto mais gente abre as torneiras e por mais tempo, mais água será gasta. A rotina mudará e aquela bomba, responsável pelo abastecimento será ligada e religada com bem mais frequência. Mais pessoas, mais torneiras e menos água!

A rotina engana os desatentos que, ludibriados pelo relaxamento da abundância de água, acreditam ser o seu poço, eterno. Engana-se também quem acredita que, mesmo com água infinita, a bomba estará sempre a todo vapor, satisfazendo as necessidades insaciáveis daqueles desatentos.

E quando o poço secar? E quando a bomba falhar? Ainda que substituíveis, sempre terá um dia que não se tomará banho por falta de água, por conta do poço ou da bomba. Ou, lógico, por conta dos moradores que sempre acreditaram ser infinita a água daquele poço ou eterna a vida útil daquela bomba. Tolos são os que negligenciam a manutenção da máquina que jorra água. Inconsequentes são os que ignoram a finitude do poço.

Querem mais água? Que tal fechar mais as torneiras? Que bom seria se a manutenção da bomba fosse feita de maneira preventiva! Um poço de águas eternas é um sonho inalcançável. Já o trabalho diário, preventivo e ordeiro, pensando sempre no amanhã é palpável, concreto!

O poço sempre irá secar. As bombas sempre apresentarão defeitos. Mas as pessoas, essas apesar de falhas, podem cuidar para que os erros sejam diminuídos. Só depende delas. Que se fechem as torneiras!



segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Estou preparado para morrer. A morte não me assusta, a vida me seduz! Zé Carlos Ramos

Tutóia, 26 de agosto de 2017.

Tio Zé Carlos,

O novo nos assusta. Como é confortável prevenir tudo, pensar em tudo antes mesmo de acontecer. Planejar e antecipar. Sou um Ramos, Ramos de sangue! Desde cedo meu pai me ensinou que devemos nos esforçar em tudo que fazemos. Eu só não imaginava que isso era tão sério. Por isso sempre nos precavendo.

Nessa família a regra sempre foi “fazer o que tem que ser feito”, independente das prioridades. Pois, a prioridade sempre foi “fazer o que tem que ser feito”. E quando pensamos em tudo o que pode acontecer, somos frios e calculistas o suficiente para nos prepararmos para o pior. Antes dos outros, sempre! As pessoas duvidam, nos questionam, até nos chamam de loucos, grosseiros... Mas, nós Ramos, sabemos, conhecemos o que é o certo a ser feito em seu devido momento. Ainda que doa nas pessoas que amamos.

Confesso! O orgulho de pertencer a essa família transborda. Ser um Ramos me constitui, me eleva. Ainda mais quando conheço todas as histórias nas quais meu pai, tios e avô passaram, anos atrás. Muitas dessas histórias têm como personagem principal o senhor, meu tio. Que homem!

Confesso também minha queda pelo romantismo do filósofo Nietzsche. Aquele apaixonado pela afirmação da vida. Pela valorização de nossos sentimentos mais puros. Aquela alegria que sentimos quando fazemos tudo o que desejamos fazer...

Quando eu olhava em seus olhos eu enxergava certezas. Eu enxergava muita vida. Uma sagacidade que eu só podia comparar a de meu pai, seu irmão, sempre que precisou vencer a vida. Quanta vida! Quantas vezes o senhor, meu tio, foi implacável e sobreviveu. Quantas vezes o senhor honrou o sobrenome que carregamos e renasceu!

Tenho orgulho de ser seu sobrinho. De ter o sangue dos Ramos, o sangue de um homem que sempre fez o que tinha que ter feito. De ser um velho lobo, um velho lobo do mar!

Meu tio Zé Carlos, o senhor faz falta. Mas estamos aqui para honrar sua sede pela vida. Como o senhor disse: A vida lhe seduz! A vida seduz a nós, Ramos! E é nossa obrigação valorizá-la, em sua memória!


De seu sobrinho, José João D Ramos.



sábado, 1 de julho de 2017

A vida, o sono, a consciência!


Será se ao dormirmos desligamos ou perdemos a consciência? Se a consciência cede lugar aos sonhos... A plenitude da vida se apresenta sem arrodeio logo ao acordarmos. A luz é intensa, a vida é a luz. Nossos olhos, vivos, abertos logo enchem nosso corpo com consciência, vida!



Aquele susto que tomamos quando perdemos a hora e percebemos isso, é vida pura. Quiseram os deuses acordar assim todos os dias. O pulo da cama, com disposição, sem rodeios - ou sem 3 sonecas seguidas, adiando o despertar – traz consciência. Não aquele atraso de horas, que nos faz perder um turno, mas sim, aquele de poucos minutos, que nos faz perder também – e só - o tempo da preguiça, antes do banho matutino. O acordar nos permite viver.

Mas dormimos também acordados. Dormimos durante o trabalho, as conversas, durante relacionamentos. E não vivemos. A consciência cede lugar aos sonhos. A vida dá lugar ao sono. A luz cede à sombra. E os sustos que tomamos vão ficando inconstantes, raros. E assim, vivendo desligados, perdemos também a consciência.


Prestemos mais atenção nos sustos. Foquemos intensamente na vida. Nunca o contrário! Para saber o que lhe faz bem, observe com demasiada finura o que lhe provoca disposição. E aí, minuciosamente, memorize como seu corpo reage ainda que por poucos segundos. É nesse momento, de disposição, momento que ninguém pode lhe frear, que a vida transborda, que o sono acaba e que a consciência reina. Bom dia!


terça-feira, 20 de junho de 2017

Minha vida canina. Meus Cães!


Animais são seres simples. Possuem naturalmente a capacidade de nunca complicar nada. Eles fazem o que têm de fazer ou não fazem o que não têm que fazer. Agradam-me os animais. Mais ainda, me agradam os cachorros. Também são inteligentes, sociáveis e, se devidamente liderados, são obedientes. Mas nem sempre pensei assim. Há poucos anos a insegurança com os cachorros ainda me incomodava. Tinha muito medo e dificilmente me sentia tranquilo perto de um. Isso aos poucos foi mudando.

Ainda criança tive meus filhotes. Criei um vira-lata chamado Dog. Meu pai construiu uma casinha de madeira para ele. Ele morreu novo devido uma virose, assim como sua irmã que morreu ainda mais nova, dias após chegarem a minha casa. Meses depois ganhei outro vira-lata, dessa vez uma cachorra, a Pink. Essa me acompanhou por muito tempo. Meiga, carinhosa, protetora e calma ela viveu com minha família por 7 anos até que certo dia ao amanhecer – eu já adolescente - estava morta. Triste. Eu mesmo a enterrei.  A Pink ainda havia gerado muitos filhotinhos que também criei: Babalu e Bombom ainda viveram conosco. O pai, Pumba, cachorro branco de olhos vivos, era o mais ativo. A Bombom acabou morrendo ao ingerir veneno, provavelmente ação de algum vizinho insatisfeito. A Babalu fugiu. Pulou, literalmente, do caminhão de mudança. Um dos filhos de Babalu veio conosco, mas acabamos doando.   

Tempos depois também tive o Beethoven e o Spike, dois vira-latas grandes e espertos. Acabaram morrendo atropelados em um dia chuvoso. Aproveitaram uma brecha no portão e, como não tinham costume de rua, foram presas fáceis de um carro qualquer, os dois, juntos, inseparáveis. Meu pai e eu ainda encontramos Beethoven vivo, tratamos, mas não adiantou. Nos meses seguintes tive minha primeira experiência com cachorros de porte grande, cujo pai era um Fila. Recebemos um casal, a Sagua e o Spike. Mas viveram pouco tempo conosco. Os doamos por falta de tempo para cuidarmos deles. Viraram belos e respeitados cachorros. Moram no mesmo bairro que a gente.

Após alguns meses, eis que surge a Polly. Uma cachorra magra, medrosa e desconfiada. Foi difícil ganhar sua confiança. Vivia pelos cantos ou por debaixo das coisas. Sempre com medo e mostrando os dentes para qualquer um que se aproximasse. A Polly vive conosco até hoje e já possui 10 anos. Virou uma cachorra muito protetora com todos da casa e com a casa. No entanto, com estranhos ela não alivia. Tem três mordidas no histórico. Ela é pequenina, magra e muito educada. Limpa e zelosa com o que tem. É ágil, sobe em muros, caça gatos, ratos, gafanhotos e o que se mexer em sua frente. Apesar do todas essas qualidades o cuidado com ela é triplicado.

Decidi então criar um Pastor Alemão. Desafio e tanto! Fui a um petshop e encontrei uma cachorrinha filhote de Pastor e a comprei. Apesar de alguns probleminhas com viroses e carrapatos ela cresceu. Se chamava Kika e também teve inúmeros cuidados especiais. Mas um Pastor não seria tão fácil de criar quanto a todos os outros cachorros que já haviam passado por minha vida. Com pouco mais de 1 ano ela adoeceu, agora de maneira irreversível, e não pude ajudá-la. Apesar de algumas internações, infelizmente ela morreu e, assim como fiz com a Pink, a enterrei. O fato de não poder ajudá-la mais me entristeceu e marcou muito.

Ainda quando Kika era viva e saudável levei para casa uma bolinha de pelo, branquinha e sem rabo. Uma cachorrinha, filha de Akita (pai) com vira-lata, rejeitada pela mãe com pouco menos de um mês. Ela mal escutava, mas já dava sinais de sua personalidade: Uma cachorrinha comilona, agitada e desobediente. Chama-se Barbie e se tornou uma linda cachorra!

Há pouco mais de um ano, ao transitar pelas ruas de minha cidade, avistei um casal de lindos cachorros. Um macho imponente e uma fêmea tranquila passeavam calmamente. Percebia-se que a fêmea estava parida. Havia muito leite em suas mamas. Um casal de Rottweiler. Visitei os filhotes. Havia dois machos apenas e estavam com pouco mais de um mês. Quando completaram quarenta e cinco dias escolhi um e o levei para minha casa. Agora eu tinha um Rott. – Toda minha insegurança com cachorros, que trazia da infância, sumiu. Com um rottweiler não havia espaço para isso - Cachorro dominante, calmo e forte. Desde que chegou mostrou a que veio. Tudo que eu havia lido sobre a raça, quando filhote, foi se mostrando sem rodeios. O chamei de Apolo. Meu Rott!
Apolo - Rottweiler

Desde então minha rotina mudou. Minha casa mudou. Construí um canil e o trato como um amigo inseparável, pois é assim que ele é hoje, com um ano e dois meses. Apolo impõe respeito ao mais corajoso humano ou cão. Basta um olhar, um movimento de seu corpo. Apolo é grandioso!

Há pouco mais de um mês adquiri um Doberman. Mais uma raça desafiadora. - Do jeito que gosto - É uma fêmea, marrom, a Mel. Cachorra calma, alegre, porém, bastante desconfiada. Lembra muito a Polly quando chegou em casa. Irá completar três meses agora em junho e logo após começarei o processo de socialização e obediência para, assim como fiz com os outros, principalmente com meu Rott Apolo, mostrar logo quem é o líder do bando.
Mel - Doberman - 1 mês e 15 dias

Tenho quatro cachorros em casa: Polly, Barbie, Apolo e Mel. A Polly deu cria de Apolo em fevereiro de 6 filhotes. Morreu um e doei todos os outros. A Barbie está amamentando 9 filhotinhos hoje, também do Apolo. Pretendo doar todos.
           Filhotes Barbie - 27 dias
              Filhotes Barbie - 5 dias

 

Finalmente encontrei um equilíbrio para fazer o que gosto: Criar cachorros. Apesar de querer mais um, pretendo parar nos quatro. Mas...


Os animais são simples. Os cachorros são excelentes companhias. Eles não querem nada além de sua lealdade. Fazem o que devem fazer e pronto. Me ajudam com grandes lições todos os dias.  
Barbie - 2 anos

Filhote Barbie - Fêmea

Polly com 9 anos

Apolo com 9 meses

terça-feira, 25 de abril de 2017

A vitória. - Tiramos a primeira rodinha da bicicleta!

A vitória.

Resolvi radicalizar. Tirei uma das rodinhas da bicicleta de meu filho. E advinha o que ele fez? Chorou. E muito, com muito medo. Coitadinho dele. Colocar a rodinha de novo? Jamais. Conversei com ele e disse que a bicicleta seria assim agora e que não voltaria mais a ser como antes. É... Os riscos fazem parte da vida. E já com quase 4 anos completos ele deveria saber disso.

Por isso radicalizei. Se ele quisesse aquela bicicleta ainda ele teria que aceitá-la com uma rodinha apenas. Ele recusou e, com raiva, disse que agora só gostava do velocípede e aquela bicicleta era feia. Por um momento achei ter perdido a batalha. O garoto é forte. Deixei a bicicleta de lado e passei a observá-lo. Até que, após alguns minutos, depois de um cochilo, eis que o indomável projeto de gente interrompe minha concentrada partida de PES 2017 ps3.

– Pai, resolvi treinar na bicicleta sem a rodinha mesmo. O senhor me ajuda segurando ela para mim?

E com a vitória estampada em meu olhar pausei o vídeo game e levantei orgulhoso daquela criança valente e decida a enfrentar o medo. Segurei a bike, ele montou, arrumou os pés nos pedais e eu disse: Vai!

E por incríveis dois metros e trinta e cinco centímetros... Ele pedalou sem que eu o segurasse. Vitória. Ele, meu filho, é um vencedor!


sábado, 22 de abril de 2017

FAMÍLIAS - ilhas

FAMÍLIAS - ilhas

Os costumes passados por nossas famílias nos moldam ainda que não os aceitemos. Recusar isso pode decretar uma falência estrutural e moral para sua próxima geração.

O ritmo de nossas vidas é intenso, pesado e massacrante. Fisicamente vivemos exaustos. Mentalmente vivemos dormentes. Muito café, açúcar, mais café para o corpo poder aguentar o dia a dia. Muita televisão, passeios, redes sociais e bebedeiras para “relaxar a mente”.

Após um dia de trabalho nossa casa não é um campo de repouso. Temos filhos para cuidar, louças para lavar, comida para fazer, chão para varrer. Um lar para cuidar. E o descanso? Bom, creio que nós que vivemos em lugares pequenos, como Tutoia, temos o privilégio de poder descansar mais. De poder ter mais tempo para nossos filhos, para nosso lar. Ainda assim existem as dificuldades.

Os pais frequentemente buscam tempo para si mesmos. Seja na televisão, em passeios, na internet ou simplesmente dormindo. Esse tempo normalmente é “achado” após o dia ou a semana de trabalho. Os dias passam. Passam-se também os meses, os anos. E a convivência vai ficando de lado. Casais se desfazem, filhos viram estorvos e famílias se dilaceram. Quando não, cria-se uma distância colossal, ainda que morando na mesma casa, entre as pessoas. Um vazio imenso é cultivado sem que ninguém se incomode.

Adultos, teoricamente donos de si, têm mais facilidade de enfrentar esses problemas se comparados a crianças e adolescentes. Os filhos criados em famílias, cuja única produção conjunta são ilhas de isolamento, não têm a mínima ideia de como lhe dar com a ausência dos pais. – Admiro a individualidade. A capacidade do ser humano de superar-se é louvável. Porém a individualidade é diferente de isolamento social.

Abdicar da convivência com seus filhos em prol de suas preferências é condenável. Renuncia-se não só a estrutura moral de sua família, mas também a possibilidade de ter em casa uma criança ou adolescente sem deficiências que o impossibilitem de enfrentar o que a vida lhe propõe. E o pior. Não encontrando em casa, nos pais, a criança encontrará quem o influencie em outro lugar. Encontrar quem o norteie. Levando-a a correr sérios riscos e jogando fora a possibilidade de um futuro decente.

Sinceramente, não são as baleias azuis, verdes ou amarelas que me preocupam, mas as palavras ou olhares que deixamos de trocar com nossos filhos. O mundo sempre apresentará riscos e armadilhas para todos. Para nós adultos, independentes e mais fortes, é mais fácil a autoproteção. É covardia demais achar que para que você, pai e mãe possam fazer o que desejam, seu filho ou filha deva aprender a viver sozinho, sem seu auxílio.