Na palma da mão, apenas. Assim, todos os dias, nós,
o encontramos. Conversamos, lemos, cantamos. Não importa se o dia foi corrido,
cansativo, nós três sempre nos reunimos. É indescritível, inimaginável, porém
real. Não o vemos, mas tocamos. Não o ouvimos, mas falamos. Sentimo-lo.
Durante uma grande quietação, esperamos. Deixamos o
tempo passar, esperamos. Até que, impacientes, ansiosos e, até um pouco
medrosos o buscamos. Saber de sua existência é maravilhoso. Esperá-lo é magnífico.
Senti-lo então, esplêndido. Por isso o trazemos. Já existe saudade. Cento e
setenta dias e seiscentos e trinta e dois gramas de realização.
Os dois – estamos - gestantes. Aguardando, sonhando,
planejando... Amando. Conversando. Comunicando-nos. Senti-lo reagir às trilhas
clássicas de Beethoven é lindo. Suas sinfonias o fazem dançar, flutuar...
Chutar. Então, com naturalidade, a Nona Sinfonia dá o tom e como um recado, ela
o faz parar, como se o fizesse ouvir, apreciar, equilibrar-se: mente e coração,
juntos, como a própria sinfonia propõe.
Coloco a mão na barriga de minha mulher – da minha
vida – e espero. Não ter resposta me inquieta. Decido cantar, falar ou ler em
voz grave e suave e, mais uma vez, como uma resposta, a reação. O mundo para
mim não existe mais, nesse momento só consigo rir.
Amo meu filho. Não precisa, mas ele me conquista
diariamente. Faz-me chorar, gargalhar... Babar.