Minha mãe, minha mãe...
Aos
nove anos de idade precisei acostumar-me a não ter minha mãe ao meu lado todos
os dias. Como já havia dito nos textos anteriores, minha mãe precisou trabalhar
em outro estado, enquanto eu e minhas irmãs estudávamos no Piauí. Para quem era
tão protegido, foi ruim. E não me
acostumei. Passei por essa época de uma maneira superficial, e não consegui me
sair bem.
O
trabalho de minha mãe era aqui em Tutoia, e eu e minhas irmãs morávamos em
Parnaíba. Meu pai, de quinze e quinze dias, nos presenteava com sua presença.
Já minha mãe, todo fim de semana. Às vezes ela chegava sexta-feira, às vezes
sábado. Lembro-me bem de que toda sexta, eu saia meia hora mais cedo da escola,
e me apressava no caminho de volta. A minha esperança era de avistá-la de
longe, caminhando. Ela sempre me acenava e eu corria.
Durante
todo o fim de semana eu era feliz. Tudo voltava ao normal. Era minha mãe, a
dona da casa, e ela estava ali, do meu lado. Dormia perto dela, lógico. Armava
uma rede por cima de sua cama, e sempre antes de dormir, pedia sua benção e a
pedia também para rezar por mim. Ela me abençoava e dizia: - É claro que eu rezo meu filho! Mas ela não entendia. Eu, com
preguiça de rezar, pedia-lhe que sua reza substituísse a minha, para eu dormir
logo. Engraçado! Acho que durante a semana, quando ela não estava por perto, eu
demorava a dormir, rezando. Quando minha mãe chegava sexta, eu tinha garantido
duas noites tranquilas.
Domingo
pela manhã era divertido. Mamãe dava uma geral em casa. Limpava, lavava,
organizava tudo. Preparava um almoço daqueles que só mãe prepara mesmo. Depois
do almoço, nem descansava direito. Sua bolsa de viagem, em cima da cama, já
esperava arrumada a hora da viagem. Por volta das três da tarde saíamos, eu,
minhas irmãs e mamãe. Conversando, ouvindo os conselhos para a semana.
Recomendações de segurança, estudos e cuidados uns com os outros. Ela sempre
nos lembrava o que fazer até o momento de entrar no ônibus.
Sua
mão para fora do ônibus acenava pela janela. Seu rosto sorrindo por trás do
vidro era a imagem que ficava em minha mente até a próxima sexta, ou sábado.
Percebia a tristeza em seus olhos por nos deixar. Mas era necessário. O ônibus
acelerava. Mas eu não aguentava e corria. Corria atrás do ônibus dando tchau,
mandando beijos, de dizendo: “- Tchau
mãe!”
Eu
cresci. Hoje moro muito perto de minha mãe. Talvez por conta do tempo que
passamos separados ainda não tenha me dado conta do prazer em tê-la sempre
comigo. Mas me orgulho de saber que passamos por tudo isso e ainda somos “parceiros”.
Sei que no fundo ela sempre me entendeu. Assim como no fundo eu sempre a
entendo. Minha mãe é tudo para mim. Meu peito sabe o quanto ela é importante
para minha vida.
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