FAMÍLIAS - ilhas
Os costumes
passados por nossas famílias nos moldam ainda que não os aceitemos. Recusar
isso pode decretar uma falência estrutural e moral para sua próxima geração.
O ritmo de
nossas vidas é intenso, pesado e massacrante. Fisicamente vivemos exaustos. Mentalmente
vivemos dormentes. Muito café, açúcar, mais café para o corpo poder aguentar o
dia a dia. Muita televisão, passeios, redes sociais e bebedeiras para “relaxar
a mente”.
Após um dia
de trabalho nossa casa não é um campo de repouso. Temos filhos para cuidar, louças
para lavar, comida para fazer, chão para varrer. Um lar para cuidar. E o
descanso? Bom, creio que nós que vivemos em lugares pequenos, como Tutoia,
temos o privilégio de poder descansar mais. De poder ter mais tempo para nossos
filhos, para nosso lar. Ainda assim existem as dificuldades.
Os pais
frequentemente buscam tempo para si mesmos. Seja na televisão, em passeios, na
internet ou simplesmente dormindo. Esse tempo normalmente é “achado” após o dia
ou a semana de trabalho. Os dias passam. Passam-se também os meses, os anos. E
a convivência vai ficando de lado. Casais se desfazem, filhos viram estorvos e
famílias se dilaceram. Quando não, cria-se uma distância colossal, ainda que
morando na mesma casa, entre as pessoas. Um vazio imenso é cultivado sem que
ninguém se incomode.
Adultos,
teoricamente donos de si, têm mais facilidade de enfrentar esses problemas se
comparados a crianças e adolescentes. Os filhos criados em famílias, cuja única
produção conjunta são ilhas de isolamento, não têm a mínima ideia de como lhe
dar com a ausência dos pais. – Admiro a individualidade. A capacidade do ser
humano de superar-se é louvável. Porém a individualidade é diferente de
isolamento social.
Abdicar da
convivência com seus filhos em prol de suas preferências é condenável. Renuncia-se
não só a estrutura moral de sua família, mas também a possibilidade de ter em
casa uma criança ou adolescente sem deficiências que o impossibilitem de
enfrentar o que a vida lhe propõe. E o pior. Não encontrando em casa, nos pais,
a criança encontrará quem o influencie em outro lugar. Encontrar quem o
norteie. Levando-a a correr sérios riscos e jogando fora a possibilidade de um
futuro decente.
Sinceramente,
não são as baleias azuis, verdes ou amarelas que me preocupam, mas as palavras
ou olhares que deixamos de trocar com nossos filhos. O mundo sempre apresentará
riscos e armadilhas para todos. Para nós adultos, independentes e mais fortes,
é mais fácil a autoproteção. É covardia demais achar que para que você, pai e
mãe possam fazer o que desejam, seu filho ou filha deva aprender a viver
sozinho, sem seu auxílio.
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