sábado, 22 de abril de 2017

FAMÍLIAS - ilhas

FAMÍLIAS - ilhas

Os costumes passados por nossas famílias nos moldam ainda que não os aceitemos. Recusar isso pode decretar uma falência estrutural e moral para sua próxima geração.

O ritmo de nossas vidas é intenso, pesado e massacrante. Fisicamente vivemos exaustos. Mentalmente vivemos dormentes. Muito café, açúcar, mais café para o corpo poder aguentar o dia a dia. Muita televisão, passeios, redes sociais e bebedeiras para “relaxar a mente”.

Após um dia de trabalho nossa casa não é um campo de repouso. Temos filhos para cuidar, louças para lavar, comida para fazer, chão para varrer. Um lar para cuidar. E o descanso? Bom, creio que nós que vivemos em lugares pequenos, como Tutoia, temos o privilégio de poder descansar mais. De poder ter mais tempo para nossos filhos, para nosso lar. Ainda assim existem as dificuldades.

Os pais frequentemente buscam tempo para si mesmos. Seja na televisão, em passeios, na internet ou simplesmente dormindo. Esse tempo normalmente é “achado” após o dia ou a semana de trabalho. Os dias passam. Passam-se também os meses, os anos. E a convivência vai ficando de lado. Casais se desfazem, filhos viram estorvos e famílias se dilaceram. Quando não, cria-se uma distância colossal, ainda que morando na mesma casa, entre as pessoas. Um vazio imenso é cultivado sem que ninguém se incomode.

Adultos, teoricamente donos de si, têm mais facilidade de enfrentar esses problemas se comparados a crianças e adolescentes. Os filhos criados em famílias, cuja única produção conjunta são ilhas de isolamento, não têm a mínima ideia de como lhe dar com a ausência dos pais. – Admiro a individualidade. A capacidade do ser humano de superar-se é louvável. Porém a individualidade é diferente de isolamento social.

Abdicar da convivência com seus filhos em prol de suas preferências é condenável. Renuncia-se não só a estrutura moral de sua família, mas também a possibilidade de ter em casa uma criança ou adolescente sem deficiências que o impossibilitem de enfrentar o que a vida lhe propõe. E o pior. Não encontrando em casa, nos pais, a criança encontrará quem o influencie em outro lugar. Encontrar quem o norteie. Levando-a a correr sérios riscos e jogando fora a possibilidade de um futuro decente.

Sinceramente, não são as baleias azuis, verdes ou amarelas que me preocupam, mas as palavras ou olhares que deixamos de trocar com nossos filhos. O mundo sempre apresentará riscos e armadilhas para todos. Para nós adultos, independentes e mais fortes, é mais fácil a autoproteção. É covardia demais achar que para que você, pai e mãe possam fazer o que desejam, seu filho ou filha deva aprender a viver sozinho, sem seu auxílio.       


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