Tutóia, 26 de agosto de 2017.
Tio Zé Carlos,
O novo nos assusta. Como é confortável prevenir tudo,
pensar em tudo antes mesmo de acontecer. Planejar e antecipar. Sou um Ramos,
Ramos de sangue! Desde cedo meu pai me ensinou que devemos nos esforçar em tudo
que fazemos. Eu só não imaginava que isso era tão sério. Por isso sempre nos
precavendo.
Nessa família a regra sempre foi “fazer o que tem que ser
feito”, independente das prioridades. Pois, a prioridade sempre foi “fazer o
que tem que ser feito”. E quando pensamos em tudo o que pode acontecer, somos
frios e calculistas o suficiente para nos prepararmos para o pior. Antes dos
outros, sempre! As pessoas duvidam, nos questionam, até nos chamam de loucos,
grosseiros... Mas, nós Ramos, sabemos, conhecemos o que é o certo a ser feito
em seu devido momento. Ainda que doa nas pessoas que amamos.
Confesso! O orgulho de pertencer a essa família transborda.
Ser um Ramos me constitui, me eleva. Ainda mais quando conheço todas as
histórias nas quais meu pai, tios e avô passaram, anos atrás. Muitas dessas
histórias têm como personagem principal o senhor, meu tio. Que homem!
Confesso também minha queda pelo romantismo do filósofo
Nietzsche. Aquele apaixonado pela afirmação da vida. Pela valorização de nossos
sentimentos mais puros. Aquela alegria que sentimos quando fazemos tudo o que
desejamos fazer...
Quando eu olhava em seus olhos eu enxergava certezas. Eu
enxergava muita vida. Uma sagacidade que eu só podia comparar a de meu pai, seu
irmão, sempre que precisou vencer a vida. Quanta vida! Quantas vezes o senhor,
meu tio, foi implacável e sobreviveu. Quantas vezes o senhor honrou o sobrenome
que carregamos e renasceu!
Tenho orgulho de ser seu sobrinho. De ter o sangue dos Ramos, o
sangue de um homem que sempre fez o que tinha que ter feito. De ser um velho
lobo, um velho lobo do mar!
Meu tio Zé Carlos, o senhor faz falta. Mas estamos aqui
para honrar sua sede pela vida. Como o senhor disse: A vida lhe seduz! A vida
seduz a nós, Ramos! E é nossa obrigação valorizá-la, em sua memória!
De seu sobrinho, José
João D Ramos.
Muito obrigada Jota. O Zé Carlos, lá onde ele estiver (acredito junto de Deus)está contente pela família que ele deixou aqui na Terra. Ele realmente se preparou para a "sua passagem". Muitas vezes conversou conosco sobre isso. Fez várias recomendações, até quase na hora da morte. Contudo, o momento me foi surpreso, pois achei que, como ele já havia passado por momentos muito difíceis, iria superar mais esse. Mas, o plano de Deus era outro. A saudade e o vazio são muito grande. A sua presença forte, corajosa e determinada ainda vive conosco. Porém, se para ele é melhor estar na Glória do Pai, que seja assim. Que os anjos dos céus estejam com ele até o dia do "grande encontro". Amém.
ResponderExcluirQue lindo, Jota! Suas palavras aquecem nossos corações. A emoção transborda!
ResponderExcluirPapai era tudo isso e muito mais Jota. Gaby, sua irmã, me disse que o papai tinha o olhar forte e a presença marcante e discreta, ele era mesmo assim. ninguém conseguia mentir diante daquele olhar, e quantas vezes tentamos esconder nossas traquinagens... sempre sem sucesso. Quantas vezes ouvimos as traquinagens dele, sempre com um tom de mistério e um jeito todo particular em narrá-las. Sinto a falta dele, acredito que nunca deixarei de sentir. Mas a vida nos seduz também, ele nos ensinou a não temer esta sedução. Obrigada por suas palavras tão bonitas.
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