sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meu e seu? Ou Achado não é roubado?


                      No auge de minha infância tive a oportunidade de aprender inúmeras brincadeiras, principalmente em épocas como essa, de arraial. Umas brincadeiras eram muito boas, outras nem tanto e algumas muito ruins. Lembro-me bem de quase todas, mas as que mais insistem em permanecer em minhas lembranças são as piores. Uma vez estava eu comendo um delicioso pedaço de pão doce, na calçada de casa, quando um de meus colegas chegou perto de mim e falou: - Meu e seu! Eu espantei-me, lógico, e curioso, perguntei do que se tratava. – É uma nova brincadeira que todos estão participando. - Tudo o que você tiver comendo terá que repartir se na hora em que for dito “Meu e seu” você não estiver de dedos cruzados. Disse ele. E depois de muita conversa acabei convencido de que também deveria brincar, e é claro, um pedaço de meu pão eu teria que repartir com o colega tão astuto. Horrível não acham? Pois é, mas ainda assim perdi inúmeros pedaços de lanches.
                     Outra brincadeira ainda mais sem nexo é aquela: “Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado”. Um sofrimento só. Ninguém podia deixar qualquer coisa solta por aí que já tomavam da gente. Absurdo! Mas eu, sempre um pouco tímido, aceitava esse tipo de jogo para não perder os contatos com o grupo. Fazer o quê? - Não tinha jeito. Pensava eu.
                     Há poucos dias deparei-me com uma situação que me fez recordar tudo isso e muito mais. Quem diria? Quase 15 anos depois cá estou eu, trabalhando todos os dias, casado, pagando minhas contas em dia, e ainda tenho que me preocupar em não deixarem me tomarem o que é meu por direito.
                     Estava eu indo para casa depois de mais um dia de labuta, e quando entro em uma ruazinha estreitíssima onde mal dava para passar meu carro, o que eu vejo? Um ônibus estacionado e uma Van, ao lado, descarregando para dentro do ônibus. Esperei cerca de 7 a 10 minutos até que o provável dono da rua me deixasse passar. Outro dia, esse mais recente, quando eu estava indo trabalhar, não acreditei no que havia visto. Chegou um parque aqui na cidade que, simplesmente, (na maior) como dizem, fechou só a avenida de principal acesso ao centro da cidade.
                     Com toda sinceridade, eu já não tenho 11 anos para brincar de tomar as coisas dos outros. E por mais que digam: - Isso sempre foi assim! Eu jamais me acostumarei. Sempre vou sentir como se tivesse ainda que repartir aquele pedaço de pão doce.
                     Ah, só pra constar. Antes, nas brincadeiras de infância, tudo era combinado antes. Hoje, por aqui, nem mesmo podemos achar que é tudo uma brincadeira. 

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