A expectativa, a esperança, o
desejo de algo novo é algo delicioso. Às vezes, em exagero, pode até ser
considerado desnecessário, pois muita ansiedade pode atrapalhar e, assim, fazer
perder detalhes da grande estreia. Porém, é essa sede que os inícios proporcionam
o que normalmente alimentam a arrancada para uma corrida em nossas vidas.
Lembro bem dos inícios em minha
vida, de minha ansiedade, meus sonhos, minhas expectativas. Claro, nem sempre
isso ajudava, mas o importante é que eu sabia que algo estava mudando, se
desenvolvendo, buscando evoluir. Em especial meus inícios de ano, de aula, me
proporcionavam emoções que não esqueço. Muitas vezes simplesmente por mudar de
série ou, apenas por terem trocado a lousa que era de giz por uma de acrílico.
Lembro a alegria que tive quando descobri que no ano seguinte àquela minha 6ª
série eu teria um laboratório de ciências para estudar. Aquela escola me
prometera isso e assim o fez. Lembro-me da primeira aula, das aulas seguintes.
Lembro-me de um dia ter oferecido meu dedo para ser furado, meu sangue ser
analisado em uma aula e assim descobrir que sou O+. A minha 7ª série, também
por isso, mexeu comigo e desde então me fez olhar diferente para a disciplina de
Ciências. Nunca fui dos melhores alunos, entretanto, a curiosidade me dominava
quando se tratava de novidades na escola.
Hoje mais cedo vi um grupo de
alunos passar em frente a escola que trabalho, o Instituto Educacional Maria
Madalena – IEMMa, o que me fez reavivar essa lembrança, que ainda hoje me faz
tão bem. Os alunos, aparentemente do Centro de Ensino Casemiro de Abreu, daqui
de Tutoia, faziam uma pequena passeata reivindicando, a meu ver, melhoras em
sua escola. Especificamente, a lembrança veio à tona quando um dos alunos
gritou: “- Queremos nosso laboratório de Química!” Para mim, que não aprovo
“movimento de massa”, não concordo com essa história de voz do povo - pois a
voz do povo já colocou boa parte do mundo em apuros - a passeata dos alunos me
agradou. Lógico, mais por emoções pessoais do que por importância do ocorrido,
porém consegui ver nos olhos de alguns daqueles alunos certa vontade. E isso é
o que mais deixa um professor maravilhado: Ver um aluno com vontade de
conhecer.
Conheço o laboratório daquela
escola. Enquanto aluno do curso de Ciências Exatas – UFMA recém-terminado,
visitei o tal laboratório para uma aula de química e uma de física. Em ambas,
as aulas foram prejudicadas por faltar equipamentos adequados ou por existirem
equipamentos, mas com defeito ou simplesmente por não estarem completos – foram
tirados por alguém ou não... quem saberá? Como foi diferente o resultado da
expectativa para aquela aula – frustrante!
Dos alunos da passeata estão
tirando, além do direito de conhecer e estudar, o direito de ter expectativas,
de ficarem ansiosos com o novo ano, com professores novos, equipamentos novos.
Querer um laboratório de química significa que existe a necessidade, a
expectativa, mas que foi abafada com a mesmice e a rotina enfadonha herdada por
professores anteriores da disciplina ou simplesmente por nunca terem sido
tratadas com a importância devida.
As aulas na cidade que moro não
são motivos de satisfação. A tensão toma conta dos profissionais da educação.
Professores remanejados, soltando comentários do tipo: “- Tu ta onde? Me colocaram
no colégio tal, na localidade tal.” Isso é o que escutamos comumente nas filas
do banco, nos supermercados, nas ruas... Não existe expectativa para o início
das aulas, a não ser, se o colégio acolá irá reabrir. Frustrações! Os alunos
que vivem tentando estudar ou pelo menos estar nesse meio experimentam
desânimos demais. Já não têm as aulas que deveriam ter, os prédios que
mereciam, os incentivos que necessitam e estão tirando deles a expectativa de
uma vida melhor proporcionada por sua dedicação nos estudos. Salvo aqueles
heróis que só dependem de si, os alunos do Ensino Fundamental e Médio de Tutoia
estão vivendo o desprazer de encontrar pessoas descompromissadas com a educação
que deveria ser prioridade.
Com sinceridade, espero que esses
alunos que vi hoje pela manhã saiam das passeatas. Desejo que eles voltem para
suas salas de aula e encontrem livros e mais livros, leiam incansavelmente,
estudem de verdade. Se eles não têm com quem contar é melhor contar consigo
mesmo, não pedir nada a ninguém e, como já disse: estudar para valer. O recado
que eles queriam dar também poderia ser passado de outra maneira, mais ordeira.
A melhor resposta que darão a toda essa situação será com boas notas e uma
aprovação no vestibular.
Esses adolescentes precisam
estudar, cada vez mais. Precisam de professores cada vez mais compromissados,
que ensinem. Só assim as suas curiosidades serão alimentadas. Só assim a sede
de conhecimento será estimulada. E as expectativas para o
futuro serão mais concretas, pois seria deles mesmo que esperariam o melhor.
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