terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Eu sitiado!


Estou sentado em minha sala tentando trabalhar. Não que não possa, mas é que não consigo. Minha amada mãe resolveu arrumar a sala, logo esta. Convocou uma ajudante e está aqui, agora, falando, ordenando, (acabou de cair meu grampeador) tirando uns livros de um lado colocando no outro. Estou aqui sentado, escrevendo e imaginando eu mesmo me vendo por um ângulo acima de minha sala. Eu, no meio, minha mãe, sua ajudante e agora minha esposa ao meu redor transitando com livros, caixas e mais livros, falando, rasgando papéis, pedindo, mandando... Elas ainda teimam em falar comigo, já eu, apenas balanço a cabeça ou para cima e para baixo querendo dizer que sim, ou de um lado para o outro querendo dizer não. Até que é interessante observá-las mexendo os lábios, sem saber que sons saem deles. O mais legal é saber que estou vendo agora todas olhando para mim e parecem que estar perguntando algo. Mas não tem problema, já balancei minha cabeça: - Devem ter entendido!

Fico me perguntando como minha opinião influencia em suas ações. Elas, as mulheres de minha vida, direcionam suas falas interrogativas para mim com um ar de boa intenção, querendo aceitar minha resposta, seja ela qual for. Mas é só o ar que é de boa intenção mesmo. Quando a pergunta é feita para mim, elas já têm em mente o que vão fazer, independentemente do que eu disser. Por tanto, minha opinião não serve. É como se elas achassem que eu me contentasse apenas em saber que elas se importam com o que eu acho. Se minha opinião for diferente da delas, já viu! As explicações sobre a coisa certa ser apenas a delas veem como um reflexo. E ainda explicam já agindo, fazendo o que estavam planejando, passando por cima de tudo, e ainda ficam com raiva, soltando aquela voz autoritária que tanto me faz medo. Como estou com medo agora! Sentado eu estava quando todas entraram aqui como um furacão, e sentado ainda estou, agora que saíram. A sala está diferente. Mas eu não. Estou ansioso, com medo Ainda estou escutando as suas vozes, agora a voz de minha irmã está mais próxima, e isso quer dizer que estão todas chegando ao mesmo tempo. Como eu já disse: - Estou com medo! Será que vão querer me perguntar alguma coisa?

É um sentimento de incapacidade. Sinto-me também cercado, ilhado, sitiado em minha própria cabeça (que está doendo). Eu poderia levantar e fechar a porta, na chave, mas corre o risco de todas entrarem e não me deixarem sentar mais. - (Minha irmã entrou aqui, falou, perguntou algo e saiu, foi rápido, mas o suficiente para me coração disparar. Ela já disse que iria colocar outra coisa na sala. Por que elas ainda entram aqui? O que elas querem? Será que o que penso realmente importa?) – Voltando – Não posso sair daqui, não consigo sair! Escuto vozes por todos os lados.  

  Dentre tantos dias de um mês, existe um dia como hoje, em que eu me pergunto várias coisas sobre minha convivência em meu trabalho. Todos os dias são parecidos, com as mesmas ocasiões, as mesmas perguntas, mas em dias como hoje, realmente, fico espantado. Como consigo passar por esses outros dias sem perceber tudo isso? E por qual motivo tem sempre um dia em que não dá para ignorar? 

(Minha mãe entrou aqui, está trazendo mais uma mesa, está carregando mais livros. Minha irmã chegou, olhou para mim, abriu um armário, olhou para mim novamente e disse: - Não gostei desse armário aqui na frente. Agora minha esposa pergunta o motivo de eu não estar preparando minha aula. Eu sei a resposta para essa pergunta, mas não me atrevo responder.)
 Hoje é dia 17 de janeiro de 2012, terça-feira, e são exatamente 16h18min.

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