quarta-feira, 1 de julho de 2020

Frederico e seus Bayblades - Desejo e a Alegria.



No natal passado meu filho, Frederico, foi presenteado com um BeyBlade. Brinquedo famoso e divertido: Um pião aerodinâmico que disputa com outro em uma arena cônica movidos por energia cinética. Meu filho acredita em Papai Noel e, mesmo encontrando a cartinha que ele escreveu em minha bolsa (que eu deixei de propósito), ainda pretende escrever mais cartas a ele para esse ano. 

Ele foi fisgado pelo vírus do desejo. A velha tática do consumo que nos impede de aproveitar o que já temos para focarmos naquilo que não temos e, portanto, desejamos. Mais BeyBlades é sua obsessão ainda que o eu e o “Papai Noel” já o tenha presenteado o bastante. 

Isso nos rende bons momentos de conversa sobre seus desenhos, brinquedos e ideias. E em uma dessas conversas perguntei a ele se ele sabia o que era desejo, se sabia o que era desejar algo. Para minha surpresa ele disse que sim, que sabia: Desejar é querer uma coisa que a gente não tem, disse. Admirei a rapidez da resposta, mas aproveitei para chegar aonde queria e fiz outra pergunta: Então você não deseja mais os brinquedos que você tem? E antes de responder rápido ele decidiu pensar, pois percebeu que eu queria encurralá-lo. Então me disse: Pai, eu não desejo mais, mas gosto deles ainda. Eu ri por dentro, admirado, claro e decidi mostrá-lo o que eu queria que ele entendesse. 

Perguntei: Fred, você já percebeu que muitas vezes você passa tanto tempo desejando brinquedos (os que não têm, claro) e deixa de brincar com os que tem? O que será que vale mais? E mais uma vez ele ficou pensativo chegando a uma explicação: Pai, mas para eu brincar com os BayBlades é preciso que o meu primo Miguel esteja aqui e quando ele não está eu gosto de ficar pensando e imaginando. E eu, como pai e amante da filosofia, fiquei muito satisfeito, pois ele percebeu o que eu gostaria. - Nós podemos gostar tanto do que temos como também do que não temos. Podemos gostar do desejo, sentimento, em possuir. O que explica o motivo de você leitor não se contentar com o celular que você tem hoje e querer o mais novo, ou a televisão, ou mesmo aquele terceiro pedaço de pizza que, ainda que sem fome, queremos devorá-lo. 

O Frederico notou a existência desses dois sentimentos e a diferença entre eles, mas não o forçarei a entendê-los ou fazê-lo escolher qual é o melhor ou pior: o Desejo ou a Alegria? Platão e Spinoza que se virem. 

Mas ficarei atento e tentarei direcioná-lo aos poucos sim, pois não gostaria que negligenciasse, por falta, aquilo que já o preenche na presença.

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