No natal
passado meu filho, Frederico, foi presenteado com um BeyBlade. Brinquedo famoso
e divertido: Um pião aerodinâmico que disputa com outro em uma arena cônica
movidos por energia cinética. Meu filho acredita em Papai Noel e, mesmo
encontrando a cartinha que ele escreveu em minha bolsa (que eu deixei de
propósito), ainda pretende escrever mais cartas a ele para esse ano.
Ele foi
fisgado pelo vírus do desejo. A velha tática do consumo que nos impede de
aproveitar o que já temos para focarmos naquilo que não temos e, portanto,
desejamos. Mais BeyBlades é sua obsessão ainda que o eu e o “Papai Noel” já o
tenha presenteado o bastante.
Isso nos
rende bons momentos de conversa sobre seus desenhos, brinquedos e ideias. E em
uma dessas conversas perguntei a ele se ele sabia o que era desejo, se sabia o
que era desejar algo. Para minha surpresa ele disse que sim, que sabia: Desejar
é querer uma coisa que a gente não tem, disse. Admirei a rapidez da resposta,
mas aproveitei para chegar aonde queria e fiz outra pergunta: Então você não
deseja mais os brinquedos que você tem? E antes de responder rápido ele decidiu
pensar, pois percebeu que eu queria encurralá-lo. Então me disse: Pai, eu não
desejo mais, mas gosto deles ainda. Eu ri por dentro, admirado, claro e decidi
mostrá-lo o que eu queria que ele entendesse.
Perguntei:
Fred, você já percebeu que muitas vezes você passa tanto tempo desejando
brinquedos (os que não têm, claro) e deixa de brincar com os que tem? O que
será que vale mais? E mais uma vez ele ficou pensativo chegando a uma
explicação: Pai, mas para eu brincar com os BayBlades é preciso que o meu primo
Miguel esteja aqui e quando ele não está eu gosto de ficar pensando e
imaginando. E eu, como pai e amante da filosofia, fiquei muito satisfeito, pois
ele percebeu o que eu gostaria. - Nós podemos gostar tanto do que temos como
também do que não temos. Podemos gostar do desejo, sentimento, em possuir. O
que explica o motivo de você leitor não se contentar com o celular que você tem
hoje e querer o mais novo, ou a televisão, ou mesmo aquele terceiro pedaço de
pizza que, ainda que sem fome, queremos devorá-lo.
O Frederico
notou a existência desses dois sentimentos e a diferença entre eles, mas não o
forçarei a entendê-los ou fazê-lo escolher qual é o melhor ou pior: o Desejo ou a Alegria? Platão e Spinoza que se virem.
Mas ficarei
atento e tentarei direcioná-lo aos poucos sim, pois não gostaria que
negligenciasse, por falta, aquilo que já o preenche na presença.
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