E se, do alto
de um penhasco, uma simples pedra resolvesse não respeitar a gravidade e
decidisse não cair?
Todas as
manhãs enquanto minha família dorme levanto-me antes das cinco da manhã e cuido
de meus cachorros: Comida, água, muito cocô. Tudo sempre igual, pois os
cachorros Apollo – Rott, Poly – Vira lata e Barbie – mestiça já conhecem toda a
rotina e não resistem a nada. Mas especialmente hoje notei algo fora dos
padrões. Ao me dirigir ao canil, mesmo com o balde de ração, notei o Apollo, um
grande rottweiler, desconfiado e só me observou de longe. Com destreza fui ao
seu encontro e percebi o que havia acontecido. Ele matou uma iguana que rondava
o quintal e a estava guardando como caça. Por isso não se afastava de lá.
É improvável imaginar que ao cair, uma pedra decida
parar, voltar e subir. Afinal, com a física e até mesmo empiricamente já
sabemos o que acontece com algo que é mais pesado que o ar e despenca sem
nenhuma resistência. E antes que me julguem achando que joguei uma pedra em meu
cachorro, calma, explicarei. O cachorro, assim como os outros animais
irracionais são como objetos caindo livremente que sempre chegarão ao seu
destino previamente definido. Meu cachorro estava preparado para usar seu
instinto defensivo de posse de sua caça. Ainda que ele abanasse o rabo e viesse
ao meu encontro buscar carinho eu não poderia afrontá-lo e mexer naquilo que
ele considera dele. Usar seu instinto seria o que de mais provável aconteceria.
Já com nós
humanos tudo é bem diferente. Veja bem, tem um animal morto no canil, uma
iguana, que em breve entrará em decomposição e exalará um odor insuportável que
incomodará a mim e aos vizinhos e, nada mais correto que eu retirar o corpo sem
vida dali e o enterrar. Entretanto, fazer isso de imediato acarretaria em um
outro problema, o que me fez decidir não fazê-lo naquele momento.
Sorte a minha
se meu rottweiler também pudesse ponderar e escolher.
A reflexão
sobre a pedra sempre me levantou em momentos difíceis. E minha relação com meus
cachorros também, meu respeito pela essência deles me tranquiliza. Quando
decidi ter um cachorro da raça rottweiler sabia o que esperar. E é assim com
todos os outros animais e objetos: a essência precede a existência. Mas não com
os homens, cuja ideia não vem antes do existir, diz Jean-Poul Sartre – filósofo
existencialista francês. Pois se assim o fosse, se não pudéssemos decidir o
local de nossa morada ou que caminho seguir seríamos escravos do “eu sou assim”
como um prédio que antes de o ser é idealizado em uma planta na mesa de um
engenheiro.
Apenas
escravos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário