terça-feira, 9 de outubro de 2012

Paisagem morta. Ou, O recuo!



Escurece e a temperatura cai. A névoa toma de conta da paisagem aberta do campo que outrora fora atacado. É paz, pensa um observador ingênuo. O vento balança as copas, e os troncos das árvores acompanham o assobio das brisas com um ranger delicado. E ali, camuflado, um sobrevivente. O ambiente tranqüilo escondia a batalha acontecida. Os corpos eram agora pasto. E no meio da vegetação uma vida, recuada.

Encolhe-se, contorce-se e abraça-se. Precisa vencer mais essa batalha: A dor, o frio, a fome e as lembranças. Valente, está vivo. Valente, precisa continuar vivo. Entre seus irmãos, guerreiros, camufla-se sem vida. Os defuntos agora servem de proteção contra o frio também.

A mente não para. Fleches de luz, lembranças, vêem e vão como balas de fuzis. O respirar do vento soa como gritos de dor. O barulho das árvores e dos animais como conversas. Está paralelo com a razão. Perdendo-a, a vida poderá ir junto. Então sente o cheiro do sangue, o gosto e a textura da terra. A vida está aqui. A consciência está aqui.

De repente passos são escutados próximos. Nada de vozes. Só passos. O solo parece responder às pisadas. Então o punho volta a contrair-se. O punhal está firme. Com um dos olhos avista a outra vida. Ela está perto.

Mas à frente, o sol teima em voltar a nascer. Em segundos a temperatura se altera e os raios atingem as pupilas também contraídas. Mas, concentrado, vidrado, em um só movimento, inclinando-se para frente apoiado em suas botas e pernas cansadas e empurra a lâmina garganta a dentro daquela vida quadrúpede. Terá alimento por mais esse dia.

Recuar será preciso. Recua, recua e, quando puder, sobreviva dia após dia.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário