Escurece e a
temperatura cai. A névoa toma de conta da paisagem aberta do campo que outrora
fora atacado. É paz, pensa um observador ingênuo. O vento balança as copas, e
os troncos das árvores acompanham o assobio das brisas com um ranger delicado.
E ali, camuflado, um sobrevivente. O ambiente tranqüilo escondia a batalha
acontecida. Os corpos eram agora pasto. E no meio da vegetação uma vida,
recuada.
Encolhe-se,
contorce-se e abraça-se. Precisa vencer mais essa batalha: A dor, o frio, a
fome e as lembranças. Valente, está vivo. Valente, precisa continuar vivo.
Entre seus irmãos, guerreiros, camufla-se sem vida. Os defuntos agora servem de
proteção contra o frio também.
A mente não
para. Fleches de luz, lembranças, vêem e vão como balas de fuzis. O respirar do
vento soa como gritos de dor. O barulho das árvores e dos animais como
conversas. Está paralelo com a razão. Perdendo-a, a vida poderá ir junto. Então
sente o cheiro do sangue, o gosto e a textura da terra. A vida está aqui. A
consciência está aqui.
De repente
passos são escutados próximos. Nada de vozes. Só passos. O solo parece
responder às pisadas. Então o punho volta a contrair-se. O punhal está firme.
Com um dos olhos avista a outra vida. Ela está perto.
Mas à frente, o
sol teima em voltar a nascer. Em segundos a temperatura se altera e os raios
atingem as pupilas também contraídas. Mas, concentrado, vidrado, em um só
movimento, inclinando-se para frente apoiado em suas botas e pernas cansadas e
empurra a lâmina garganta a dentro daquela vida quadrúpede. Terá alimento por
mais esse dia.
Recuar será
preciso. Recua, recua e, quando puder, sobreviva dia após dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário