quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Escrevo e gosto do que escrevo!


É difícil escrever quando se está desmotivado. No entanto, não é impossível. Deve ser mais difícil escrever quando não se sabe escrever. Por isso leio tantas asneiras nas redes sociais. Por mais que se filtre o que se quer ver, não se consegue escapar os olhos desses ciscos que mais parecem pedregulhos.

Quando se tem a leitura como costume diário viciamos o cérebro a ler tudo o que se apresenta em nossa frente. Não escapa nada. O que pode passar despercebido são alguns detalhes que o próprio costume da leitura nos faz ignorar: um pronome, um verbo, algumas palavrinhas. Mas a interpretação não escapa.

E o que dizer de quem escreve, ou tenta expressar-se com a palavra escrita e não consegue? Isso não é para tantos. Outro dia li algo interessante que dizia: - Quem nunca gravou sua voz ao cantar, não sabe o que é decepção. A decepção ao descobrir que sua voz parece mais uma taquara rachada do que veludo, só existe por que se têm como padrões as vozes que estão nas rádios, televisões, gravações dos cantores famosos.

Quem não sabe escrever ilude-se, provavelmente porque não lê o suficiente – leituras relevantes, é claro. Portanto não tem parâmetros que permitam avaliar sua própria escrita e deduzir que, assim como sua voz, é tudo um horror.  

Por isso temos que aguentar todos os dias os clichês, as frases mais absurdas, os piores erros, as incontestáveis convicções ideológicas – ignorantes e incoerentes. As redes sociais socializaram isso também e só avivaram a brasa. Parece que existe incentivo para a ignorância. Gravasse-se isso, teríamos um estrondo horrível e insuportável.

Então, ainda com minhas poucas leituras, não deixarei de escrever. Até tentei e disse que não valeria mais à pena. Entretanto, pelo que ando vendo, lendo e escutando, acho que minha escrita, mesmo que mediana, não merece ser ocultada. 
   

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Paisagem morta. Ou, O recuo!



Escurece e a temperatura cai. A névoa toma de conta da paisagem aberta do campo que outrora fora atacado. É paz, pensa um observador ingênuo. O vento balança as copas, e os troncos das árvores acompanham o assobio das brisas com um ranger delicado. E ali, camuflado, um sobrevivente. O ambiente tranqüilo escondia a batalha acontecida. Os corpos eram agora pasto. E no meio da vegetação uma vida, recuada.

Encolhe-se, contorce-se e abraça-se. Precisa vencer mais essa batalha: A dor, o frio, a fome e as lembranças. Valente, está vivo. Valente, precisa continuar vivo. Entre seus irmãos, guerreiros, camufla-se sem vida. Os defuntos agora servem de proteção contra o frio também.

A mente não para. Fleches de luz, lembranças, vêem e vão como balas de fuzis. O respirar do vento soa como gritos de dor. O barulho das árvores e dos animais como conversas. Está paralelo com a razão. Perdendo-a, a vida poderá ir junto. Então sente o cheiro do sangue, o gosto e a textura da terra. A vida está aqui. A consciência está aqui.

De repente passos são escutados próximos. Nada de vozes. Só passos. O solo parece responder às pisadas. Então o punho volta a contrair-se. O punhal está firme. Com um dos olhos avista a outra vida. Ela está perto.

Mas à frente, o sol teima em voltar a nascer. Em segundos a temperatura se altera e os raios atingem as pupilas também contraídas. Mas, concentrado, vidrado, em um só movimento, inclinando-se para frente apoiado em suas botas e pernas cansadas e empurra a lâmina garganta a dentro daquela vida quadrúpede. Terá alimento por mais esse dia.

Recuar será preciso. Recua, recua e, quando puder, sobreviva dia após dia.     

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O pão de todos os dias. - Ou, Verticalize seu crescimento!


Todos os dias, nos cafés da manhã, enxergamos um pão. Imaginem. O pão que em breve você irá comer. Pois bem. O que você pensa sobre esse pão? Qual sua opinião sobre esse pão? Você deve está pensando que: Ora, um pão é um pão, e ele está aqui para ser comido. Correto. Mas eu lhe digo: Você pode pensar mais! E você logo diz: Ah, como seria bom se todo mundo tivesse uma pão desse todas as manhãs. E eu lhe digo: Você ainda não pensou! Agora você, que já sabe o que eu quero, pense! Tente pensar!

Viver hoje, nessa correria, está dificultando cada vez mais o pensamento. O pragmatismo, o imediatismo, essa pressa pelo amanhã está nos privando do pensamento crítico. Pensar não é mais observar, lembrar, concentrar, raciocinar, pois não dá mais tempo. Quantos dias da semana, do mês, ou do ano você se pegou fazendo as coisas por fazer, ligado no automático?  Pois é! E o pensamento? E a razão das coisas? O que você está fazendo com o único instrumento que lhe diferencia, portanto, lhe engrandece perante os outros seres?

Estudando filosofia, lendo os principais filósofos que já existiram e que existem, consegui aprimorar algo que há tempos me fugia, a paciência. Lendo e entendo a razão das coisas, ou pelo menos tentando entender, quase que flutuei por enxergar em conceitos que já existiam e que existem, mas quase ninguém nota-os, que a vida não é assim rasteira nem plana. Existe o alto que se pode alcançar. E uma vez estando ali, o que se vê são caminhos horizontais, que crescem à proporção que o pensamento diminui.

A filosofia, para quem a recebe, possibilita verticalizar os horizontes. Aumenta o grau, a intensidade do pensamento. A razão das coisas passa a ser prioridade, fazendo com que você, indivíduo, pense e abandone o vício do amanhã e a dependência de um defensor seu. Viver o hoje, sem pressa, observando, associando com paciência é uma característica de homens que flutuam e vêem do alto.

Hoje, as pessoas, a grande maioria delas, passam pelo agora e nem se dão conta. Aparentam não estarem presentes em seu próprio corpo. Mas não confundam, não é como flutuar. Quando se flutua, não se abandona a carne. Mas o impaciente, sim, vive fora de si, em outro lugar que não seja este. Para se encontrar precisa retornar. O eterno retorno é necessário.

Ao tomar o café da manhã e quando olhar para seu pão lembre-se de retornar. Pense, reflita de onde aquele pão veio. Como será que ele foi feito? Desde o plantio do trigo até chegar a sua mesa é necessário que pense. Entenda. Isso é ser crítico. Isso é flutuar. Isso é ser gente, feito de carne. Homem humano.