Tem por costume
criar algo para satisfazer-se o indivíduo que adquire uma angústia eterna, um
desejo infinito, uma esperança. Por mais que se reclame, entregar-se à
expectativa, viver uma esperança e martirizar-se ainda é prazeroso. O arrependimento
e o desejo eterno, como dois extremos, são o combustível dos seres humanos
comuns.
Para se
conseguir a verdade pura é necessário enxergar além da ponta do nariz. E se, por
fortuna, deparar-se com uma não-verdade, acreditar em qualquer não-mentira é
sim está focado na ponta do nariz. - Como
é satisfatório acreditar no que se quer ver! Acreditar em sua própria mentira
torna-a verdade, mas não a livra de ser mentira. Porém, credita-se a qualquer
conto uma pureza inexistente só apreciada na particularidade. Quando vista por
terceiros aparenta o que é realmente, uma não-verdade. E por que acreditar?
Ao adquirir o
hábito da pescaria, obtêm-se também a habilidade de iludir-se. A esperança é a
maior arma do pescador. Sem técnicas específicas, pacientemente aguarda-se o
peixe prender-se no anzol. Sem conhecimento e sem essa habilidade da paciência
a chance de alcançar o objetivo é ínfima. Deduz-se assim que sem esperança não
se alcança o desejo, e o ser humano prende-se a isso de tal forma que aprende
também a depender dele. Torna-se inviável viver e não ter esperança. Mas por
quê?
Na verdade a
inviabilidade está em ter que esperar sempre por algo. Simplesmente o ato em si
é o suficiente para viver. Ao esperar – esperançoso -, o ser aprende também a
depender, logo desaprende a ser autônomo, configurando assim uma ineficácia.
Ora, e por que ainda se iludem?
Simples. A
lembrança maltrata o ser. Os atos que antecederam os desejos e foram
desastrosos como resultado não abandonam as memórias do ser comum. Quer-se, por
força, não esquecer o sofrimento por ter-se a esperança de que isso não se
repita. E se repetir, tem-se a esperança de saber como solucionar o problema
por já conhecê-lo. Esperar por um problema é a marca da incapacidade. Esperar
por uma solução também é.
O ser humano é
especialista em criações. É especialista em sonhos. Mas deveria ser
especialista em esquecer. Mas devia ser especialista em agir - sem esperar!